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terça-feira, 20 de julho de 2010

Pornófilos, o que é?

Os pornófilos de cinema são um fato social assimilado. No máximo, desconfortam alguns moralistas. Os fregueses de DVD pornô são divertidos: merecem um “reservado” nas locadoras e usam os filmes para esquentar a vida doméstica. É uma pornografiazinha que o pai de família se permite, restringindo-a ao quarto do casal. As polêmicas sobre pornografia foram tomando corpo quando a internet chegou aos lares e, nos lares, primeiro aos adolescentes. À maioria dos pais, os meandros da web são inacessíveis e incompreensíveis.

O inacessível e incompreendido atemoriza e motiva preocupação, nem sempre com fundamento. Além disso, de quando em vez é feito escândalo em face de algum abuso nas redes de relacionamento. Excessos são condenáveis, mas comportamentos inadequados em redes sociais fora da internet são muito mais comuns. Recomenda-se controle da “navegação”. O censurado sempre atrai. As revistas com nus foram duramente cercadas. Hoje, acessíveis, não atraem criança para espiá-las e, se alguma as manusear, dificilmente estará “condenada ao caminho da perdição”.

O assunto merece ser debatido, mas palpites não conduzem a lugar algum. Essa questão é pouco conhecida, e só muito recentemente iniciaram-se recenseamentos que levarão a conclusões mais acertadas. Alguns dados relativos ao Brasil (FSP, tec, 02jun10): 37,5% foi a porcentagem de internautas que acessaram sites pornográficos em abril deste ano, contra 2,7% na Inglaterra; sites pornô sempre tiveram a preferência de 30% dos internautas; 55 minutos, tempo médio gasto por mês, contra 19 minutos em 2003; 10,2 milhões de visitas em abril de 2010, contra 2,3 milhões em 2003.

Os números permitem concluir: brasileiros vão muito ao mundo pornô, muito mais do que os ingleses, pelo menos; de 2003 para hoje, multiplicou-se por quase cinco o número de internautas com tal destino; investiram três vezes mais tempo em pornografia, desde então. “Além disso, lembra Rodrigo Nenj [...], as redes sociais podem abrigar conteúdo pornográfico, o que significa que quem as frequenta não deixa de ter acesso a material para adultos”. Bem, em abril de 2010, 24,1 milhões estiveram passeando por redes sociais por 4h22minutos, contra 4.7 milhões por 48 minutos, em 2003. Dedução: como aqui também tem pornografia, temos mais pornógrafos do que talvez se viesse a imaginar.

São os dados. Deles, o que se pode concluir? Creio que não muita coisa, salvo que, por informações estatísticas, de cada três conhecidos que frequentam a internet – amigos, colegas, irmãos, namorados, filhos, cônjuges, pais e mães –, mais do que um é pornófilo. Como todos os dados são de computadores domésticos, esse pornófilo tem mais do que uma chance em três de estar na casa, sentado à mesa ou dormindo com qualquer um de nós.

Diz-se que o número aumenta porque a internet oferece privacidade. A privacidade dá licença para realizar desejos que reprimiríamos em público. Mas ela não induz, apenas permite. Pausa parentética: não pareça que me oponho aos sites de “malcriação”. Cada qual que se satisfaça – se com relações adultas e livres – como a imaginação permita. Ademais, esse negócio, assim como a tecnologia de cada época permitiu, tem mais tradição do que se quer confessar. “Os anais dessa história registram que os primeiros catecismos [gibis de sacanagem] chegaram ao Brasil no início do século 19, com a vinda da família real [...] A produção brasileira começou nos anos 50” (FSP, E7/livros, l9jun10). Para quem gosta, afinal, qual a diferença entre livrinho e computador?


Fonte: LÉO ROSA DE ANDRADE. Doutor em Direito pela UFSC. Psicólogo e Jornalista. Professor da Unisul.

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